O Barão a obra-prima de Branquinho da Fonseca foi trazida para o cinema numa realidade alternativa por uma equipa Luso-Americana num barracão algures num Portugal ainda governado por Salazar. Quando o antigo ditador descobre a existência deste filme, com um personagem com qual rapidamente se identificou, ordena a destruição dos negativos expatriando a equipa norte americana, sendo a restante equipa mandada para o Tarrafal. O guião é redescoberto nos dias de hoje tendo sido trazido para o grande ecrã por Edgar Pêra.
O Barão um vampiro aposentado já sem dentes mas ainda com vontade de morder, move-se em espaços que nos remetem para um misto do expressionismo alemão de Murnau e do goticismo das adaptações feitas por Corman das obras de Poe. O filme chega até a lembrar as loucuras de Ed Wood que aqui são executadas com precisão e cuidado.
Somos levados ao Barão através do inspector das escolas que vai até à aldeia dominada por esta figura vampiresca. A figura do inspector que relutantemente viaja a este local esquecido pelo mundo tornando-se então a figura do espectador que assiste às excentricidades do Barão.
O Barão interpretado majestosamente por Nuno Melo é a representação da figura autoritária podre que continua a agarra-se ao poder com as forças que ainda dispõe. O principal exemplo destas tentativas frustradas é a exclamação da frase que se repete ao longo do filme “Aqui quem manda sou eu”.
A direcção de fotografia está a cabo de Luís Branquinho neto do autor da obra, a fotografia tal como referi anteriormente emula os antigos filmes de terror, transportando estas figuras da literatura portuguesa para um filme de série B norte-americano. Esta resposta ao cinema que se faz hoje em dia tem raízes claras na história do cinema. Quem assiste ao filme sem o cuidado que o mesmo requer pode cair em erro, ficando a pensar que o estilo oculta a obra de Branquinho da Fonseca. No entanto, a verdade é que o próprio Branquinho da Fonseca na sua obra joga com o estilo incluindo estes elementos oníricos que rodeiam os personagens. No filme de Edgar Pêra o estilo responde sempre as emoções dos personagens que nem sempre estão à flor da pele.
Voltando aos actores peças centrais deste conto, para além de Nuno Melo o Barão vale também a pena referir a actuação de Leonor Kell a personagem mistério deste filme, que se configura entre a “damsel in distress” e um figura de poder oculto.
Para terminar não posso esquecer as Vozes da Rádio que compõe as músicas do filme e que têm um papel fulcral na cena orgíaca final. Concluo então dizendo que em Portugal não existe grupo ou movimento em que possamos incluir o trabalho de Edgar Pêra que continua a experimentar como ninguém, sendo O Barão mais exemplo desta sua obra que não cabe nos cânones actuais.
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