segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Bons Sons 2010



O destino do autocarro é o festival Bons Sons, e ao sairmos do mesmo deparamo-nos com uma pequena localidade a alguns quilómetros de Tomar. A aldeia dá pelo nome de Cem Soldos e não parece ser um local habituado ao movimento de gentes estranhas à terra trazidas pelo festival Bons Sons. A pequena aldeia de Cem Soldos reduz-se a um pequeno agrupamento de casas e alguns campos de cultivo, mas graças ao festival viu-se repleta de uma estranha estirpe de viajantes, os chamados festivaleiros. Mas desengane-se quem pensar que esta é uma aldeia qualquer pois Cem Soldos vibra por todos os poros. No centro da aldeia, os dois palcos já fazem parte da paisagem. Os palcos foram baptizados em homenagem a dois homens responsáveis por desenvolver a música tradicional portuguesa, o palco Lopes Graça foi montado na praça principal, enquanto o palco Giacometti foi montado entre duas casas bem ao lado da Casa das Ratas.
Este festival que se auto intitula Bons Sons para além de preparar um dos melhores festivais de música totalmente em português, teve também em conta outros pontos de interesse como a sessão de curtas com o nome “Curtas em Flagrante” da autoria de Elemento Indesejado e também as exposições de Nuno Coelho e Nuno Morão.
Conhecida a terra que recebeu o festival resta então enunciar os pontos positivos e negativos do mesmo, no que aos pontos positivos diz respeito começo por referir o facto de toda a organização do festival ser composta de voluntários que se movem apenas por amor à música portuguesa. É preciso também referir a amabilidade com que as gentes de Cem Soldos receberam todos visitantes.
Em relação à música dois dos maiores pontos altos do festival vieram de duas sumidades do panorama musical, um deles foi nos trazido pela mulher que traz Portugal na voz, Lula Pena. E o outro ponto alto foi nos trazido pelo homem cujo dom com guitarra nos emociona, Norbeto Lobo. Os pontos altos nesta edição do festival continuam desta vez da total responsabilidade dos dois homens de negro, os Dead Combo que nos levaram numa viagem por sons que variam desde do imaginário de Sergio Leoni até aos bairros de uma Lisboa alfacinha.
Os dois últimos pontos altos do festival vem da parta do senhor Bernardo Fachada, à tarde como B Fachada acalentou os corações daqueles que ouviram os seus poemas cantados. À noite já como Diabo na Cruz deu com o os seus companheiros o melhor concerto desta edição do festival Bons Sons.
No que aos pontos negativos diz respeito é preciso referir algumas falhas na organização do festival, exponenciadas pela elevada afluência ao festival que tornou difícil a estadia de alguns dos que se dirigiram a Cem Soldos.
Outros dos pontos negativos deveu-se devido a uma pequena parte do público que se dirigiu a Cem Soldos, com motivos que não se prendiam com a música. Esse grupo deu origem a algumas confusões tendo até impedido o restante público de apreciar parte do concerto dos Diabo a Sete, nessa altura ouvi alguém ao meu lado referir que tinha saudades do público de Sines.
Em termos musicais os pontos negativos vieram por parte dos Melech Mechaya que tentam compensar a música pouco inspirada com artificialismos como as intervenções em palco do vocalista da banda.
A edição deste ano já se encontra findada mas Cem Soldos espera que daqui a dois anos possamos assistir a mais uma viagem pela música que se faz em Portugal.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Arcade Fire - The Suburbs


“Funeral” é uma pedra no charco, uma redefinição conceptual da música mundial, o primeiro álbum da banda de Montreal forneceu a contextualização a todas as bandas que lançaram os seus álbuns no rescaldo do abalo que foi “Funeral”. Todos os álbuns que se seguiram foram pensados tendo este marco, o próprio “Neon Bible” sofreu com as comparações feitas ao seu antecedente. Logo este terceiro álbum de originais é uma tentativa de Win Butler se dissociar do seu pecado original, “The Suburbs” é uma espécie de anticorpo contra o turbilhão criado por “Funeral”. Neste álbum Win trouxe os seus companheiros de volta a casa, uma visita aos sons que responsáveis por educar os homens e mulheres que formam os Arcade Fire. Logo este álbum pode ter diferentes leituras dependendo se o tomamos como uma obra individual distanciando-nos dos anteriores trabalhos da banda ou se o tomamos como parte da trilogia iniciada por “Funeral”.
“The Suburbs” é uma viagem às memórias daqueles tempos mais simples, aquele local onde o indivíduo se forma. Esta viagem tem como paisagem obviamente os subúrbios, os terrenos mais afastados do cerne do nosso Ego, mais pertos das nossas lembranças. O local onde o capital informativo depois de processado fica depositado à imagem do sótão da casa dos pais aquele lugar mágico repleto de peças fundamentais para construção do individuo.
O álbum começa com a sua música homónima, “The Suburbs” foi a primeira música a ser divulgada pela banda ainda antes do lançamento do álbum. Percebe-se o porque desta música ter sido o primeiro vislumbre do álbum, “The Suburbs” funciona como uma espécie de prelúdio da obra, funciona como aquelas notas em letrinhas pequeninas que os autores colocam nos seus livros com o objectivo de facilitar a leitura àqueles leitores menos esforçados. E se “The Suburbs” é escrito com letrinhas pequeninas “Ready to Start” é prosa e com letra capital. A música parece ter sido escrita algures na adolescência dos anos oitenta, a música começa com uma linha de baixo intensa até que se ouve “Now I am Ready to Start” e a partir dai a bateria é substituída, e lá para o final somos levados para uma experiência etérea.
Os arranjos líricos neste álbum são semelhantes aos usados em “Neon Bible” existem claro excepções como por exemplo “Modern Man” onde os Arcade Fire se despem de maniqueísmos em termos harmónicos deixando apenas os riffs mais elementares fazendo assim com que a estrutura rítmica fique assente nos jogos da líricos de Win Butler. Outro exemplo da inovação lírica de Win Butler é a música que se segue a “Modern Man” no álbum, “Rococo” é a fúria divina de um Deus do antigo testamento que joga fogo sobre os seus crentes com vista a os purificar. Neste caso Win Buttler é o Deus que ataca a sua legião de fãs que acha serem desprovidos da inteligência necessária para discernir o que é o bom e mau sem a ajuda “da cena indie” instituída.
“Empty Room” é um regresso às orquestrações onde os Arcade Fire já foram muito felizes. Esta música é a uma das poucas excepções neste álbum pois se a excluirmos, “The Suburbs” é uma quebra com os seus dois últimos álbuns, o único local onde já tínhamos ouvido esta espécie de som por parte dos Arcade Fire foi em “No Cars Go” o que comprava o regresso às origens que antecederam “Funeral” pois “No Cars Go” foi criada para o seu primeiro ep sendo só mais tarde vestida e gravada para “Neon Bible”.
Outro ponto importante em “The Suburbs” é investida da banda por novas forma de criar som, isso pode ser observado na modesta tentativa de incluir sons electrónicos em “Half Light II (No Celebration)” onde os Arcade Fire brilham ou em “Sprawl” onde a banda se aventura pelos terrenos da electro pop desta vez completamente às claras. Em “Sprawl” a voz cristalina de Régine Chassagne reassegura o espírito dos fãs, pois mesmo envolvida pelas camadas sonoras inéditas a canção transporta-nos para um imaginário mais próximo do que a banda já fez anteriormente.
O álbum termina tal como começou assegurando a sensação de unidade do álbum.
É preciso ainda referir “Month May” que parece um alien perdido no meio do álbum, uma tentativa Punk falhada que chega ferir a unidade do álbum, esta música ficaria bem algures num ep nunca conjunto com as restantes músicas deste álbum.
“The Suburbs” é aglomerado de sensações que nos navega por uma época antes dos Arcade Fire até uma inocência juvenil e a partir desse ponto criar algo que reflicta a pureza dessa época.
Podemos então dizer que “The Suburbs” é um álbum ainda mais ambicioso que os anteriores trabalhos da banda. Contudo o que impede o álbum de ser o novo “Funeral” é talvez esse excesso de ambição.
Com “Funeral” os Arcade Fire fizeram o mundo tremer, com “Neon Bible” deixaram o mundo a arder. Em “The Suburbs” a banda voltou-se para si mesma, pegou nos destroços causados pelos últimos álbuns e criou algo novo que só o futuro dirá se se trata apenas de um alien ou uma porta para o futuro.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Photography Hijacked



Este filme é um documentário que analisa o trabalho de 12 fotógrafos que individualmente representam diferentes facções da arte fotográfica.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

FMM 2010 Conclusão

A edição deste ano do Festival de Músicas do Mundo terminou este ano as suas lides com a actuação do colectivo Staff Benda Bilili banhada pelo fogo de artificio que iluminou a actuação da banda da República Democrática do Congo. Antes da actuação final do Castelo tocaram também nesta morada Cheick Tidiane Seck e Mamani Keita que proporcionaram à multidão dentro do Castelo a última dança do festival. Na praia a festa continuou com U-Roy e Batida. Ficamos à espera da edição do próximo ano e que o ambiente mágico das edições anteriores se mantenha intacto. Para recordar a edição deste ano podem ver a fotoreportagem a esta edição do FMM na minha conta do flickr.

domingo, 1 de agosto de 2010

FMM 3º Dia

The Rodeo


Todos os anos no alinhamento do festival FMM existe sempre uma banda com um pé naquilo que podemos chamar de indie. Na edição deste ano os The Rodeo cumprem essa quota no alinhamento do cartaz. Em conjunto com os músicos Laurent Blot e Jean Thévenin, Dorothée trouxe à avenida da praia a tradição Folk e Country norte americana sem esquecer um cover do Homem de Negro sob a forma de “Rings of Fire”.

Sa Dingding


Sa Dingding trouxe ao público do Castelo um dos melhores espectáculos visuais desta edição, numa actuação cheia de cor a artista chinesa mostrou que tem sentido estético. Sa Dingding foi educada na música tradicional da China, mas esta mescla esse conhecimento da sua cultura com música electrónica do ocidente dando origem a uma mistura que muitas vezes não proporciona os melhores resultados, ficando a sensação no final do concerto que o mesmo soube a pouco.

Tinariwen


Existe a confusão naqueles que não percebem como pode Ibrahim se considerar um músico tradicional do Mali se o seu instrumento de eleição são os blues. Mas não se enganem incautos ouvintes, pois para Ibrahim antes dos blues criados pelos escravos negros nos campos de algodão do sul da américa, já se tocavam os blues em pleno deserto do Sahara. A banda trouxe consigo a magia sob a forma dos acordes libertados pela guitarra de Ibrahim, criada a sintonia entre estes homens azuis e o público os Tinariwen libertaram no Castelo a areia do Sahara.


A festa continuou depois na praia desta vez já sem magia sob a forma dos Forro in the Dark que serviram apenas para abanar os corpos daqueles cujo do grau de alcoolémia ultrapassava em larga escala o limite legal, aos outros restou a opção de dormitarem na areia.