Poucas são as vezes em que descobrimos novos artistas que nos excitam, e não acontece passadas algumas audições que o amor que por eles nutríamos tenha desvanecido. Percebe-se então o turbilhão de emoções criado em volta desta menina de lábios carnudos nascida no país
de sua majestade. O seu álbum de estreia já valeu os mais excêntricos elogios a esta menina que ainda há pouco tempo se movia no núcleo nu-folk.
Deixa-me contudo deveras incomodado os comentários que referem a Anna Calvi como uma transcrição de Polly Jean Harvey. Convínhamos, é quase impossível para uma mulher pegar numa guitarra sem aparecer alguém a referir o nome de PJ Harvey. Esta comparação inútil serve apenas para desmerecer a originalidade deste primeiro trabalho de Anna Calvi. Não compactuo contudo com ilusões exageradas de grandeza como o comentário de Brian Eno que se refere a Anna Calvi como o maior acontecimento na música desde o aparecimento de Patti Smith.
O disco homónimo de Anna Calvi traz-nos uma construção narrativa que nos relembre os ambientes criados por Angelo Badalamenti. Aliás a o primeiro álbum de Anna Calvi muitas vezes se aproxima da tensão encontrada nos momentos mais intensos da banda sonora da saga de Twin Peaks. As referencias melodicas deste álbum homónimo não se contudo com o universo de David Lynch a música de Anna Calvi encaixa na perfeição nos ambientes cénicos dos filmes de Gus Van Sant ou Wong Kar-Wai.
Anna Calvi não facilita em nada audição do seu álbum começando o álbum com “Rider to The Sea” o momento instrumental que nos remete para algo próximo de uma estética dos spaghetti westerns.
A voz elegante de Anna Calvi percorre muitos caminhos neste seu álbum homónimo desde a personagem inquietante de “No More Words” ou viagem pelo espaço minimalista de “The Devi” na companhia voz desassossega de Anna.
Anna Calvi utiliza neste álbum a guitarra para evocar emoções que tradicionalmente estão presas ao mundo literário. A carga dramática da voz de Anna Calvi liga-se na perfeição aos sons negros eléctricos que vêem da sua guitarra. Longe de uma linguagem realista a música de Anna Calvi leva-nos para lugares transcendentais e negros que devem envergonhar as meninas que afirmam ter algo a ver com a estética gótica.
Se não bastasse a beleza física desta mulher com ascendência italiana as letras e a voz de Anna Calvi transmitem uma sexualidade que transborda em cada música e ameaça incendiar o nosso espírito com a sua intensidade galopante.
Para finalizar aqui fica o registo ao vivo do tema “Desire”
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