sábado, 2 de maio de 2009

Especial Indie Lisboa #2


Birth of a City

Tudo começou como um projecto de fim de curso que se transformou, transformando-se num retrato de uma cidade. Aqui Londres é a personagem principal e João Rosas coloca-a na tela de uma forma sincera. Esta Londres não é a dos postais, é a Londres dos anónimos que se fundem com as ruas. A intensidade da relação narrador cidade, transborda em cada plano que milimetricamente plano a plano relata esta dependência.
No capítulo seguinte da película conhecemos a pintora de cidades, é neste momento que a personagem principal se transforma numa tela branca que presencia a recriação da cidade.
Dá-se então um confronto de visões narrador/artista. A artista que vê a cidade como um conjunto de linhas e contexturas que formam as várias estéticas, entra em cotejo com o narrador que se foca nas gentes que formam padrões sinergéticos.
Mas esta dicotomia de visões que enriquece as camadas do quadro, camadas essas, que se multiplicam sobrepondo-se umas às outras, criando a densidade intelectual do filme. Neste filme a crise mundial não passa de pequena banda sonora que aparece por vezes em voz off.
A oposição de entre a cidade “real” que é mostrada pelo narrador e a representação da mesma criada pela pintora de cidades é o principal elo narrativo do filme. Esta oposição cidade “real” por vezes fria e dolorosa por vezes quente e protectora e a sua representação imagética mais fluida e profunda.
A dada altura o narrador compara Lisboa o seu berço à cidade que o acolheu por três anos. Lisboa é assim descrita como o útero quente que o abriga do mundo, enquanto Londres é a amante fogosa que mistura prazer com dor.
E assim o quadro cresce novas camadas são criadas e assim se sente o movimento e a vida da cidade. É este quadro que faz a narrativa mover-se sendo ele o transporte de informação do filme.
E tal como a sua modelo o quadro em constante mutação luta por conseguir atingir um final inalcançável. A pintora de cidades pergunta ao narrador - “Que tal está?” não se ouve resposta “E agora?”. Este diálogo representa a natureza mutável da cidade, a pintora de cidades observa a mutação constante fazendo desta mutação, enquanto o narrador a observa como um observador que não faz parte da acção.
Dá-se então a transição representação representado e por fim o até sempre à amante e o regresso ao útero.

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