sábado, 24 de maio de 2008

Curtas #4

The Raveonettes


Esta dupla dinamarquesa não esconde uma estética claramente inspirada nos anos sessenta, e um som fortemente inspirado na distorção e batidas irregulares semelhante ao praticado pelos Velvet Underground. De facto a admiração da banda pelos Velvet Underground foi confirmada quando convidaram a baterista Maureen Tucker para o álbum Pretty in Black”. Depois de par de anos sem noticias deste rapaze e rapariga os The Raveonettes voltam com “Lust, Lust, Lust”, neste novo álbum a dupla mergulha mais fundo no shoegaze sem esquecer a distorção e a luxúria.


Mates of State


A ligação entre Kori Gardner e Jason Hammel é tudo menos platónica e esse sentimento traduz-se nas músicas deste casal. Os Mates of State precisam apenas de alguns sintetizadores, teclados e uma bateria tudo isto em comunhão com as vozes deste duo resulta numa indie pop muito inocente. A designação twee assenta na perfeição ao som desta dupla americana. Ela no teclado ele na bateria e uma produção competente chegam para garantir bons álbuns da parte desta banda. “Re-arrange Us” é o álbum mais recente do casal, está cheio de músicas pop capazes de por um sorriso na cara de qualquer, é pop sem desmérito nenhum.

Los Campesinos! Live at Paradiso - Small Hall

A Marcha dos Lobos


É difícil termos uma conversa sobre a nova vaga de bandas vindas do Canadá, sem referir pelo menos um dos membros dos Wolf Parade. Os Wolf Parede funcionam como um colectivo que reúne a nata dos artistas canadianos. Embora não sejam os Broken Social Scene têm membros suficientes para fazerem uma grande festa.
O mais curioso é que esta banda apenas se reuniu devido a um pedido feito a Spencer Krug (membro dos Frog Eyes, Sunset Rubdown e Swan Lake) pelos ainda então desconhecidos Arcade Fire que precisavam de uma banda que os acompanhasse na turnê para promover o álbum “Us Kids Know”. Com um prazo apertado para cumprir Krug pediu auxiliu à unica mente criativa capaz de rivalizar com a sua sua, foi assim que Dan Boeckner (Atlas Strategic e Handsome Furs) se juntou a Krug.
Algumas semanas passadas e a dupla já tinha material suficiente para embarcar na turnê, mas para que este projecto funcionasse eram preciso músicos suficientemente talentosos para trabalhar esse mesmo material. Foi assim que se juntaram à dupla Dante DeCaro (Johnny and the Moon e Hot Hot Heat), Arlen Thompson e Hadji Bakara. Em 2005 os Wolf Parade lançam o seu primeiro álbum e as críticas bastante positivas a “Apologies to the Queen Mary” já fazem parte da história da cultura pop.
Estamos agora em 2008 e os Wolf Parade já são considerados uns dos principais nomes da nova vaga musical do seu país, eles voltam agora com um novo álbum “At Mount Zoomer”. A expectativa em redor da nova criação de Krug e Boecner é bastante elevada, depois de “Apologies to the Queen Mary” todos estamos à espera de uma espécie de fusão entre os Handsome Furs e os Sunset Rubdown em vez de uma metade Handsome Furs e outra Sunset Rubdown. Pelo que pude decortinar nos meandros da internet o álbum possui a mesma consitencia instrumental do seu antecessor e as vozes de Krug e Boeckner continuam a incendiar as letras da banda. Para conter a expectativa aqui fica um aperitivo para o novo álbum dos Wolf Parade a nova música “Call it a Ritual” tocada ao vivo na La Sala Rossa.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Entrevista com os MGMT

"Pete Doherty is a Fuckhead"



in "Phonogram" by Kieren Gillen and Jamie McKelvie

Máquina do Tempo #1


O ano era 1996 e o acontecimento era uma banda vinda de terras lusas. Os Pinhead Society eram um grupo de miúdos vindos de Lisboa que prometiam demasiado. Estávamos numa época onde Stephen Malkmus lutavam com os Sonic Youth pelo titulo de melhor banda Indie da década. Enquanto isso em Portugal Mariana Ricardo, Joana de Sá, Nuno Pessoa e André Ferreira formavam a banda que prometia salvar o panorama musical alternativo nacional. Foi no ano de 1998, que “Kings of our Size” entrava nas prateleiras das lojas logo para aquela zona muito restrita dedicada música alternativa local que não estava habituado a receber projectos nacionais. Em “Kings Of Our Size” ouvíamos os riffs de guitarras típicos dos anos 90 que nos levavam de canção em canção, mas ouvíamos também a voz melancólica da vocalista Mariana Ricardo que em nada ficava a dever a melancolia do próprio Billy Corgan. O álbum mostrava uma atitude pop muito próxima da identidade inglesa, enquanto não tinha medo de assumir que o seu âmago era a música rock americana dos anos noventa. É difícil ouvirmos os Pinhead Society e não fazer comparações com os Pavement ou mesmos os Sonic Youth com chegaram a partilhar o mesmo cartaz. Mas ao mesmo tempo sentimos nos Pinhead Society um identidade própria da realidade portuguesa. Quando olhamos para a carreira meteórica dos Pinhead Society é difícil não sentirmos uma certa tristeza por tudo ter acabado tão depressa, e somos quase obrigados a imaginar se a história não teria sido diferente no mundo dos blogues e dos myspaces que vivemos hoje em dia.
Mas aconteça o que acontecer “Kings of our Size” será sempre a resposta lusa à década de 90. Com “Kings of our Size” nós em Portugal tivemos em primeira-mão o retrato fidedigno de uma juventude com medo de crescer, enquanto o resto do mundo teve de esperar por “High Fidelity” de Stephen Frears.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Desculpe eram uns Architecture in Helsinki para levar

IndieLisboa '08


Por esta altura mais um Indie Lisboa terminou e está na altura de se fazer o rescaldo de mais uma edição que trouxe o melhor do cinema independente mundial a Portugal. O festival que todos os anos promete ser o paraíso para a maioria dos cinéfilos que tentam fugir às grandes salas cinema, contou com as homenagens a Johnnie To, a José Luis Guerin e ao Novo Cinema Romeno. Este ano pude ver nas várias salas de cinema de Lisboa que acolheram o festival alguns filmes do meu agrado entre eles o filme romeno de Thomas Ciulei filho do realizador Liviu Ciulei, Flower Bridge um documentário centrado numa família moldava, que luta para se manter unida numa pequena vila do interior depois da partida da mãe para Itália. O filme conta as participações de Costica e os seus filhos que relatam as tarefas diárias numa narrativa semelhante à de um diário. Pude também assistir a Pas a Nivell um fime do realizador espanhol Pere Vilá, o filme conta a história de um rapaz com medo de crescer. Uma das primeiras cenas do filme mostra o protagonista a pedir à sua professora para que o reprove para que isso o impeça de terminar o seu curso. O filme mostra um rapaz que deambula pela cidade perdido em si mesmo tendo como única referencia a sua avó, que morre mais tarde no filme deixando-o ainda mais perdido. A narrativa de Pere Vilá causa algum desconforto ao público provocado pela acção inexistente no filme.
Do cartaz do IndieMusic que contava com grandes filmes com Lou Reed’s Berlin ou Patty Smith – Dream of Life pude a assistir a The Field Guide to North America o documentário que serve de registo à melhor música indie que se faz nos EUA e Canadá. O filme é uma compilação de videoclips de alguns dos melhores artistas actuais dentro os quais se destacam Johanna Newsom, Devendra Banhart, Wolf Parade, Fiery Furnaces e Smog. O filme peca apenas por não construir um registo documental à volta dos vários videoclips.
No que toca ao panorama nacional tive a oportunidade de assistir ao filme Via de Acesso vencedor do prémio para melhor longa metragem nacional. Este documentário é o retrato da vida das pessoas, nos subúrbios de Lisboa. É a voz dos bairros clandestinos que crescem nas saídas da capital.
Para mim um dos pontos fortes deste festival foi o filme do grego de Alexander Voulgaris, Pink o nome da cadela do protagonista, interpretado pelo próprio realizador, serve de titulo para o filme. O filme percorre uma narrativa já conhecida aos fãs de um tal de Richard Linklater, é um filme de relações umas mais comuns que outras. Vassilis Galis o protagonista sofre com os sentimentos que o perseguem.
Para terminar num registo mais leve temos Help! o filme de Johnnie To gravado em 27 dias que conta história de um hospital onde os médicos não tratam dos doentes, as enfermeiras não ajudam os médicos e os auxiliares de limpeza não limpam. É uma comédia negra ao estilo de Johnnie To.
O Indie Lisboa promete voltar para o ano com mais uma grande programção dos melhores filmes indie que se fazem nos quatro cantos do globo.

"Revolver"


Estávamos no ano de 1966 e os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo, “Revolver” o álbum faria a transição entre os “Fab-Four” e o psicadelismo de “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band” acabava de sair. Era em “Revolver” que ouvimos pela primeira “Love to You” uma das músicas compostas por George Harrison para este álbum e é nesta música que somos apresentados pela primeira às influencias da cultura indiana que viria a fazer parte do trabalho da banda daí para a frente.
Mas em “Revolver” os bigodes e as barbas ainda não apareciam sendo o fato e gravata ainda a indumentária de eleição.
O álbum “Revolver” inaugurava todo um novo som para os Beatles, o pop que se ouvia era ousado e incrivelmente pesado para a época.
O crescimento musical dos rapazes de Liverpool não foi de todos algo inesperado, nos meses que antecederam o lançamento do álbum Paul McCartney mantinha um relacionamento com Jane Asher a musa de “For no One” e era o membro dos Beatles mais ligado às artes. Por sua vez John Lennon ainda longe de conhecer Yoko Ono que o faria dedicar-se à cultura avant-garde, passava os dias a fumar Haxixe. McCartney ocupava o seu tempo a ver peças de teatro e outras artes performativas, foi nesse meio que conheceu Allen Ginsberg e mais tarde o apresentou a John. Allen Ginsberg é nos anos sessenta uma figura incontornável depois do seu poema “Howl”, mas para além de Ginsberg outro homem que seria uma grande influencia para os Beatles de “Revolver” seria Timothy Leary, o psicólogo que se dedicou ao estudo do efeito do LSD na consciência do individuo.
Era assim que se começava a gravar “Revolver” na plena loucura criativa da dupla Lennon/MacCtney, para além da dupla o papel de George Harrison como compositor aumenta exponencialmente com três canções compostas para este álbum. Os sons ouvidos em “Revolver” eram na época considerados batidas desafinadas misturadas com sons atípicos que desafiavam o ouvido humano. Mas era no meio de consumo psicotrópicos que surgiam hinos psicadélicos como “Eleanor Rigby”. A noção de música pop conhecida por todos nós hoje em dia é sem dúvida graças às catorze músicas de “Revolver”. Este era o álbum que abria as portas para a vaga de psicadelismo que se viria a sentir nos anos seguintes, sem esquecer que foi este o álbum que precedeu “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band” o álbum que tornaria os Beatles os ícones da cultura pop que hoje são. Louvado Seja Deus.