Com Mysterious Production of Eggs, Andrew Bird adquiriu uma certa fama à custa de canções pop adornadas de cordas e assobios dignos do mais melodioso dos pássaros. Canções assim só podiam ter continuação num disco que, apesar de menos directo, tem o dom de criar vicio inesperado. Esse disco chama-se Armchair Apocrypha, foi editado em 2007, e reúne canções tão inspiradas como "Fiery Crash", "Imitosis" ou "Plasticities". Antes do seu regresso a território português, o Bodyspace teve a oportunidade de questionar Andrew Bird sobre tudo isto - que não é pouco. Em poucas palavras, o autor de Armchair Apocrypha disse muito. Andrew Bird estará de volta a Portugal para três concertos - e desta vez vem com banda. No dia 30 de Maio no Teatro Académico Gil Vicente em Coimbra, no dia 31 do mesmo mês no Cine-Teatro São Jorge em Lisboa e no primeiro dia de Junho no Theatro Circo em Braga.
Como é que se sente ao lançar o teu sétimo disco?
Criogénico.
Este novo disco parece verdadeiramente menos directo do que Mysterious Production of Eggs. Também parece que tentou evitar repetir o seu último disco. Concorda?
Sempre que eu tento fazer um disco como o anterior ele falha miseravelmente. Sinto que este disco é mais directo de uma forma visceral. Algumas das vozes no Armchairs são mais estáticas como no espectáculo ao vivo.
Ao mesmo tempo há muita gente a dizer que este é o seu disco mais coeso até hoje. Sente isso?
Eu acho que o Weather Systems foi o mais coeso. O Armchairs e o Eggs aguentam-se bastante bem. Penso bastante na sequência e na escolha das canções. Não queres fazer um disco onde o ouvinte se sinta compelido a saltar faixas. Os meus impulsos criativos são erráticos, por isso a coesão requer algum trabalho.
Olhando para este disco nunca o diria, mas alguma vez sofre de bloqueio de escrita?
Perco a fé nas palavras por vezes, mas as melodias nunca param de chegar.
Este novo disco foi gravado na sua maior parte em Minneapolis nos Crazy Beast Studios e Third Ear Studios. Como é que foram esses dias?
Longos. Não sei fazer um disco sem me magoar a mim mesmo. É algo como escarificação; como é que pode ser bom se não tiveres nenhumas cicatrizes para mostrar?
E como é que foram os dias que escreveu as canções propriamente ditas? Como é que se prepara para escrever canções para um novo disco?
Escrever é apenas um bi-produto de estar vivo. Alguma solidão com algumas explosões de estímulos parece ajudar, mas esta é a minha vida para vocês.
Acredita – ou espera – que este disco venha a trazer-lhe novas e distintas audiências?
Claro.
Há algo de Jeff Buckley em um ou dois momentos deste novo disco, lançado curiosamente dez anos após a sua morte.
Admira o trabalho de Jeff Buckley?
Admiro a sua musicalidade, mas não emulo.
Finalmente ganhou a coragem para colocar um pássaro na capa do disco. Aquele é o pássaro que sempre quis ser?
Evitei a imagística do pássaro até agora. Parecia-me um pouco demasiado óbvia. Desde que comecei a passar mais tempo na Europa a peculiar coincidência do meu nome tem sido trazida à minha atenção. Pensei, ganhei o direito de ser óbvio. Acho que gostaria de ser um redwing ou um jaybird.
Como é que alguém chega a ter um assobio como o seu? Trata-o bem?
Eu assobio constantemente. É a forma de como a música escapa da minha cabeça. Não posso beber antes de um concerto já que é quase tão mau como comer bolachas salgadas.
Já começou uma grande tour que acabará em Junho. Presumo que esteja a apresentar as canções deste seu novo disco. Como é que estão a resultar ao vivo?
Tentamos coisas novas todas as noites. Não sou especialmente fiel ao disco. Criamos na verdade mais som do que aquilo que está no disco. Os concertos estão a ficar mais confiantes, enérgicos e até psicadélicos.
Vai voltar a Portugal muito em breve para actuar em Lisboa, Coimbra e Braga. O que é que espera desses concertos?
Espero audiências muito respeitosas e boas salas de concertos. Espero apenas que haja alguma oportunidade para mau comportamento.
O que é que se lembra dos dias que passou em Portugal em 2005?
Caminhei por todo o lado. Vinho delicioso e peixe cheio de óleo. Num país tão pequeno, fiquei impressionado com o facto do norte ser tão diferente do sul. Lembro-me de olhar no porto e sentir a história e a tenuidade de tudo.
Entrevista retirada do site Bodyspace
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