sábado, 2 de julho de 2011

Imagem e Música


A imagem realizada tornou-se algo quase intrínseco à música pop, este conceito foi exportado para o mundo através da MTV. No inicio dos anos oitenta esta televisão norte americana que se auto intitulava a televisão da música popularizou em todo o mundo a noção do videoclip ou teledisco. Se a mesma não inventou o conceito a ela se deve contudo a sua introdução na cultura de massas. Esta linguagem do videoclip foi mais tarde até incorporada na criação “artística” de Hollywood, enraizando-se na cultura visual mundial. Esta massificação da cultura pop tornou quase impossível a existência musical, sem esta bengala videográfica. O declínio dos padrões até níveis lamentáveis da MTV acompanhada pelo declínio da indústria remeteu o videoclip para nível de spot publicitário.
Em 2006 aproveitando a popularidade do recém-criado youtube, o realizador independente Vicent Moon conhecido pelos seus vídeos criados para bandas independentes, criou um novo conceito que se encontrava entre o videoclip e a gravação de concertos ao vivo. Criados para o site La Blogothèque os Take-Away Shows de Vicent Moon nasciam da ideia de gravar a actuação de músicos Lo-fi em locais estranhos e pouco comuns. A maioria dos músicos tocaria com instrumentos acústicos ou com aquilo que encontrassem no local. A ideia funcionou graças ao bom gosto dos músicos escolhidos e o talento da realização de Vicent Moon que assentam numa estética própria que onde o contraste, as tonalidades amarelas e pretas predominam. Os Take-Away Shows contaram no inicio com músicos como os Animal Collective, Jens Lekman, Xiu Xiu ou os Arcade Fire em inicio de carreira a tocarem num elevador. Rapidamente o sucesso desta iniciativa deu origem a uma nova linguagem que foi assimilada por outras plataformas, como as Black Cab Sessions que colocavam os músicos num táxi de forma semelhante à In a Van Session.


Take-Away Shows

E como Portugal não é totalmente indiferente a estas tendências, também neste pequeno país se começa a ver a produção nacional no meio destas investidas. Um desses projectos de divulgação videográfica dos artistas portugueses é a Videoteca Bodyspace, nascida com uma espécie de spin-off do site Bodyspace. Já com morada autónoma a Videoteca não se resume à divulgação nacional estando sempre com um pé no estrangeiro. Com uma vertente urbana a Videoteca Bodyspace pressupõe na sua formação uma intervenção no espaço público. Para além das salas de ensaio comuns, os artistas interagem também com o espaço envolvente. As suas virtudes prendem-se com a simplicidade e a curiosidade que conferem às sessões uma pureza estética que nos conduz ao talento dos artistas escolhidos. Até agora o projecto conta com 33 sessões dos quais já fizeram parte nomes como Norberto Lobo, Dreams, My Brightest Diamond, Youthless e Tiago Sousa.


Videoteca Bodyspace

Para além do projecto da Videoteca Bodyspace podemos enunciar o projecto de Tiago Pereira, A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria. Que não se trata da apropriação desta estética de Vicent Moon mas sim da continuação do trabalho iniciado por Tiago Pereira nas suas longas-metragens. Pegando nas diferentes tonalidades da música portuguesa Tiago Pereira faz uma viagem por estas camadas que formam “a música portuguesa”. Sendo Tiago Pereira a cabeça do projecto, a realização destas pequenas curtas contam também com os trabalhos de Joana Barra Vaz, Nélia Marquez Martins e Carolina Simões. É impossível dissociar estas já centenas de gravações do restante trabalho de Tiago Pereira. Uma das características principais do trabalho de Tiago Pereira é a libertação dos snobismos muitas vezes presentes nos trabalhos etnográficos. Tiago Pereira retrata com a mesma beleza e pureza a Tia Benedita ou os Linda Martini. Este é sem dúvida um dos projectos que mais vale a pena acompanhar e viajar com ele pelos diferentes cantos desta música portuguesa.


A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria

Para terminar refiro ainda o programa Toca e Foge, a música em Portugal tem estado na sua maioria arredada do pequeno ecrã ficando reduzido a um programa de listas que pouco tem a ver com música. O Toca e Foge é um programa do canal que colado à estética de Vicente Moon, que coloca os músicos nos tais ambientes estranhos e que nos entre meios os entrevista, com uma estética próxima de um processo cruzado que fica bem nas coisas que são da “cena”. O programa é da autoria de André Penim, apresenta uma grande variedade de músicos que nem sempre prezam por qualidade consistente. Mas vale a pena congratular este programa que tenta colmatar uma falha das grelhas televisivas.

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