quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Cléo de 5 à 7


Realizado por Agnés Varda este filme encaixado na Nouvelle Vague documenta em tempo real a tarde de uma jovem actriz que espera o resultado de um exame médico.
O filme começa com o único apontamento de cor num plano que desvenda um possível futuro de Cléo mostrando pelas cartas. Através destas cartas conhecemos pequenos factos de Cléo. Findada a consulta e já a preto e branco a cartomante confirma os maiores medos da jovem Cléo. Saída da consulta da terrível Cléo vê-se ao espelho e imagem responde-lhe que enquanto for bela estará viva, pois a morte é a feiura. No café é nos dada a conhecer a figura materna da nossa personagem principal. Perdida num mundo de outras pessoas Cléo esconde-se na atrás da sua imagem exterior, presa às trevas dos seus temores que se misturam com uma lucidez cruel. Já em casa é onde a personagem principal cresce emocionalmente, uma cantora com medo da sua voz e presa a um homem que não a vê. Cléo é mais frágil quando canta e se mostra como figura dramática, desespera-se no meio de canções e musicais, foge da sua casa claustrofóbica para ruas que a miram. Nessas ruas contraria a multidão que a rodeia. Nessas ruas Agnés mostra-nos Paris através dos olhos de Cléo, uma Paris que esta persegue e Paris que a persegue a ela os olhos inquisidores que a perseguem que a objectivam. Procura depois uma cara conhecida, uma amiga de longa das a quem atravessando um túnel escuro conta a sua enfermidade. A sua amiga leva a ver uma curta, curta esse que conta com um Jean Luc Godard mudo que conta uma estória com muitos paralelismo à da heróina, o óculos escuros que escurecem o mundo um contraponto ao medo obscura o futuro de Cléo. No parque vê-se sozinha, até que uma personagem exógena se infiltra no seu mundo. Graças a Antoine Cléo sente-se tocada pela vez num mundo que nunca a havia tocado. No final depois de saber os resultados Cléo já não é a mesma pessoa o mundo mudou para ela, e ela mudou para o mundo.
Com uma estética marcada pela visão fotográfica da autora, Agnés Varda mistura o melodrama existencialista com a simplicidade do dia a dia. O olhar de Varda deixa-nos ver um Paris diferente uma Paris dos anos sessenta uma Paris a preto e branco.
O filme é a transposição dos diferentes frames da câmara de Varda para uma linguagem em multicamadas onde cada plano transpõe uma ideia diferente dai a abundância de significados que se podem retirar da obra.

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