O documentário dos ingleses Dylan Southern e Will Lovelace, Shut up and Play the Hits, chega a Portugal no próximo dia 25 por meio da mais recente edição do festival DocLisboa. O documentário em questão segue as 48 horas que descrevem o dia do último concerto dos LCD Soundsystem e a manhã que o seguiu. Além de podermos vislumbrar os derradeiros momentos do concerto que ficará para sempre na história música, podemos também acompanhar James Murphy na sua difícil de tarefa de por fim a uma das bandas mais bem sucedidas da última década. Vale pena observar a relação entre o sucesso da banda e a consequências desse mesmo sucesso num homem que não foi talhado para ser uma rock star. No filme fica clara a dificuldade de James Murphy em matar os LCD Soundsystem. Contudo fica também clara necessidade dessa morte na garantia da longevidade de Murphy e na garantia do estatuto da banda como uma das mais influentes na cultura da década transacta.
Depois da sua presença no DocLisboa o filme continuará a sua carreira nacional no Espaço Nimas a partir de 1 de Novembro. Não devem perder a oportunidade de assistir a este filme inédito numa das melhores salas de cinema da capital.
terça-feira, 23 de outubro de 2012
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Yeasayer - Fragrant World
O que fazer, quando as músicas do álbum no qual estives durante meses a trabalhar, estão prestes a serem vazadas por um puto borbulhoso na cave dos pais? A resposta é simples. Antecipamos o puto e espalhamos as músicas pelos locais mais obscuros da internet. Foi isso que os Yeasayer fizeram com o seu mais recente álbum Fragrant World, com a ajuda de Yoshi Sodeoka, que usou os seus poderes mágicos para criar ambientes visuais jactancioso, para cada uma das músicas do mais recente álbum da banda. Organizada a caça ao tesouro resta apenas aos fãs pegar no mapa e procurar as músicas do Yeasayer. Para aqueles que não curtem mapas, o mnii tem em baixo os vídeos da músicas.
Fingers Never Bleed
Longevity
Blue Paper
Henrietta
Devil And The Deed
No Bones
Reagan’s Skeleton
Demon Road
Damaged Goods
Folk Hero Schtick
Glass of the Microscope
TRC ZigurFest
mynameisindie TV #14
Washed Out – A Dedication. Directed by Yoonha Park
Liars – Brats. Directed by Ian Cheng
Golden Donna - Paulding Light. Directed by Jonathon Leslie-Quam
Sutja Gutiérrez - Blue & Green. Directed by Mariana Borau
Mon Khmer – Dreamers. Directed by Russell Cramer
domingo, 29 de julho de 2012
sábado, 28 de julho de 2012
Milhões de Festa… Ou Barcelos tem mais encanto na hora da Despedida
É com grande consternação que vos escrevo esta última parte, deste documento que se propõe a descrever a minha passagem pelo festival Milhões de Festa. Este documento é unicamente fundamental a todos aqueles que choram neste momento baba e ranho, pedindo aos deuses a chegada breve do verão de 2013.
A última tarde do festival foi dedicada ao sightseeing, que foi interrompido pelos concertos na piscina dos Naytronix e os Moon Duo. Os primeiros são metade da banda tUnE-YaRdS, tendo trazido consigo a genial Merrill Garbus para uma participação especial debaixo do cogumelo. Quem fechou a piscina foram os Moon Duo com seu drone psicadélico, que deixou os banhistas à beira do colapso nervoso presos pelas batidas superlativas do duo.
...
A noite em Barcelos começou com duas bandas vindas directamente do festival FMM em Sines, ambas trazendo consigo o aroma dos freaks. Os primeiros trouxeram o sabor do mundo, com um pequeno toque de picante. Os franceses L’Enfance Rouge trouxeram um rock magro que desfraldou as expectativas altas daqueles que os esperavam. No palco Vice tocavam os Memória de Peixe, o duo que trouxe o melhor espectáculo de luzes do festival – onírico. O post-rock improvisado da banda e seus convidados – Da Chick e metade dos Best Youth – trouxe uma mistura bem sintonizada entre os loops delirantes e as camadas dançantes, demonstrando o bom gosto indiscutível da banda. No palco central preparavam-se os hipsters, pois a next-big-thing – hype do caralho – estavam prestes a entrar. Os Alt-J chegaram com os seus penteadinhos muito certinhos que não planeavam desmanchar. Estes camones estiveram em Barcelos perdidos na maior parte da noite, encontrados muito excepcionalmente. A pop britânica dos putos percorre caminhos já percorridos por outros com muito melhores resultados. Aqueles que estavam à espera de uma segunda aparição viram as suas expectativas goradas. A noite continuou com metal categórico dos Red Fang. Os Black Gnod – fusão frankensteiniana entre Black Bombaim e Gnod – que posso descrever como pseudo sublime, onírico pindárico, rock aterrador. Trouxeram aos presentes a tensão efervescente do rock genuíno que enche o festival de orgulho. Para continuar a festa no palco Vice chamaram a malta da Discotexas, que repetiu a party avassaladora que já tinham trazido no dia anterior na piscina. Ao Homem do Fino coube a tarefa de chegar esta edição do Milhões com um concerto híper secreto perdido pela maioria algures em cima de um contentor.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Milhões de Festa…Ou a História do Galo de Barcelos
Devo aqui confidenciar que estive quatro dias em Barcelos e nem por uma vez ouvi o galo cantar, começo a achar que o galo em Barcelos é só loiça pra vender a turista.
No segundo dia a sério do Milhões resolvi trabalhar afincadamente para o bronze, passei portanto o dia na piscina rodeado por gajas com bikinis coloridos - thumbs up - e um gajo com uma cuecas laranjas a dizer “nadador salvador” - thumbs down. Já a piscina estava morna quando o psicadelismo electrónico dos Gnod teve direito aos seus primeiros raios de sol em Barcelos. Os Reveange foram a segunda banda a tocar na piscina, e desde logo mostraram aos banhistas, que o seu hardcore é só pra meninos e meninas com pêlo no peito. Ainda os tímpanos zumbiam, quando o pessoal da Discotexas se apoderou do palco da piscina, primeiro os Xinobi & Moullinex, depois a Da Chick. A última mostrou que um pouco de groove e muito funk chegam para criar uma multidão de seguidores, que alternam entre as bombas na piscina e os corpos possuído pelo demónio. Os resistentes que ficaram na piscina tiveram o prazer de assistirem ao melhor hip-hop chunga que se faz no Barreiro. Aqueles que ficaram pra ouvir os Bro-X tiveram o prazer presenciar uma versão de Karla Puta, cantada acapela em uníssono com os berros selvagens do público.
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Depois do concerto explosivo dos Bro-X que se prolongou até ao lusco-fusco, restou-me tempo apenas para apanhar o final dos Lüger. No palco Milhões tocaram os cabeça de cartaz El Perro Del Mar mas por falta de conexão entre o público e Sarah Assbring, o concerto dos suecos não deixará memória àqueles que os viram em Barcelos. Se a falta de vontade e a voz arrastada de Sarah ficaram aquém das expectativas do público, o concerto no palco Vice que sucedeu os suecos deixará sem dúvida as melhores memórias àqueles que viram os Prinzhorn Dance School. Monocórdicos, Monocromáticos, Anacrónicos… Pindáricos. O duo que veio a Barcelos representar a DFA records, mostrou aos hipsters do Milhões que ainda existe Post-Punk de qualidade em 2012. O duo inglês deixou um marca profunda naquele que foi o melhor dia do festival. No palco Milhões seguiu-se um jovem de cabeleira oxigenada, ao meu lado alguém disse que se trataria do Kurt Cobain exumado. Tal qual um líder de uma seita Connan Mockasin convidou o público a sentar-se no chão de Barcelos. O público enfeitiçado pelo psicadelismo acedeu às demandas da figura em palco. A música do músico australiano enfeitiçou os jovens que ficaram presos à onda orgânica que percorreu o recinto. O concerto de Mockasin trouxe-nos uma das experiências mais estranhas do festival, entre o sussurro mágico do australiano e o turbilhão espacial, nada ficou por dizer neste concerto prazenteiro. Depois da trip colectiva providenciada por Mockassin seguiram-se no palco Vice os Gala Drop. A banda Lisboeta é um diagrama dinâmico de multicamadas e afectos musicais. O frenesim, space-rock dos Gala Drop provou ser o melhor condimento do Milhões de Festa na modesta opinião deste blogger. No que restou da noite é necessário mencionar ainda a fumaça dos Weedeater, o hip-hop cabalístico dos Ghunagangh e a música da cena do Publicist.
terça-feira, 24 de julho de 2012
Milhões de Festa… Ou 1984: A Invasão dos Homens de Negro
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A noite cai em Barcelos e os palcos principais abrem portas, depois de atravessam um mar de macacos de negro, uma constante em todo o festival, foi possível vislumbrar a paisagem magnifica que termina com o palco Milhões onde por essa hora já tocavam os Sensible Soccers. Eu desconhecia a possibilidade das bandas Indie puderem fazerem referencia ao desporto rei, pensei que existia uma regra contra isso, mas a verdade é que o rock etéreo da banda valeu-lhes do titulo de campeões do europeu de Barcelos. Depois dos Sensible Soccers tocaram no palco Vice os League, que nada têm a ver com a série de Mark Dauplass. A música Lo-fi solarenga do duo aqueceu o pessoal todo de Barcelos e meteu a miúda do vestido vermelho a dançar – eu já a vi em qualquer lado. Não posso no entanto esquecer a participação fundamental do Hélio – sim vocês sabem quem ele é – o homem tocou a sua nota como ninguém. Depois da pop fofinha dos League, o headbanger dos Baroness voltou a por os meus tomates no sítio. De volta ao Vice, dei de caras com o homem do saco, Holy Other para a maioria, que usa o capuz por vergonha…BORING STUFF. Mas o melhor da noite ainda estava por vir. O Rockuduro dos Throes + The Shine testou a resistência do palco Milhões. Eles pediram pro pessoal dançar e ninguém lhes fez a desfeita, é impossível ficar indiferente à BATIDA. Não houve corpo no Milhões que não tivesse sentido o frenesim sonoro dos Throes + The Shine invadir-lhes a alma – Tá a Cuiar. A festa não esmoreceu depois do último concerto do palco Milhões, pois no palco Vice já estavam os Youthless. O Alex e o Sab trouxeram um convidado que tomou conta das teclas e chegou mesmo a dar voz a um tema dos Black Sabbath. O duo que aqui se apresentava em trio, elevou a fasquia tendo estoirado as colunas do palco Vice com o seu rock-nós-somos-fodidos-e-sabemos-disso. Antes da noite terminar tiveram ainda tempo de mostrar a nova Drugs editada pela Lovers & Lollypops. A noite continuou no palco Vice com os Meneo e os Glam Slam Dance .
PS. Antes de terminar queria só referir que o gajo com a máscara de coelho mete medo.
Milhões de Festa… Ou como meter uma carrada de hipsters em Barcelos
Dia 19 a caravana de jovens suburbanos adentrou o Parque da Cidade, ocupando assim o pouso comum da prole mais idosa de Barcelos. Acontecendo um encontro imediato entre a minha pessoa e um desses autóctones, que depois da nossa conversa - que se desenvolveu com alguma dificuldade para ambas as partes - ficou a pensar que todas aquelas tendas pertenciam a uma excursão escolar. Pôr a mala dentro da tenda recém-montada é uma vitória conseguida depois de uma viagem que contou vários comboios e a nefasta paragem em Nine. Depois de tal viagem o que fazer no dia 0 do Milhões de Festa, preparado pela Lovers & Lollypops estava à espera do comum campista um roteiro turístico pela cidade, uma espécie de “Onde está o Wally?”, mas com bandas da cena. Tal tarefa tornou-se tão complicada como a tarefa de encontrar o jovem de óculos de massa e camisola às riscas. Quando dei por mim encontrava-me algures entre bancas com couves e t-shirts da Niké, fui salvo de tal cenário graças à música de fundo dos The Glockenwise que me indicou o caminho para o primeiro palco. Infelizmente não cheguei a tempo de assistir ao concerto, tendo chegado apenas a tempo de ver o arrumo do palco. Frustrado mas desta vez já com uma guia à altura, consegui chegar a tempo dos Käil que tocavam em frente à Casa Meira. A música deste grupo chegou mesmo a dar origem a um pequeno engarrafamento devido ao público que se amontoava diante destes jovens. Ao fim da tarde na esplanada do Largo do Apoio tocavam os Aspen, o seu stoner rock capaz de mandar abaixo toda a zona histórica de Barcelos, preparou o espírito dos jovens imberbes que já antecipavam o festival com muitos finos no bucho para aquilo que o festival lhes tinha planeado. Quanto aos Cálculo o mapa de nada me valeu, depois interrompida esta demanda restou apenas o regresso à tenda e a preparação para patuscada marcada para mais logo.
...
Desta vez já num palco como deve ser, o palco Taina que iria ser a alternativa ao palco da piscina nos dias que se seguiriam. Nesse palco tocaram os The Glockenwise, sendo que desta vez os meus olhos já os conseguiram vislumbrar. A minha opinião acreditada, é capaz de resumir o concerto a uma simples palavrinha do "caraças". Estes putos de Barcelos fazem-se, não tenham dúvida disso meus senhores, esperem só até às borbulhas dos putos secarem e vão ver. Os miúdos tiveram tempo para anteciparem o concerto dos Throes + The Shines, com um cheirinho do tema Batida. Não esqueçamos também a frase da noite proferida por Nuno Rodrigues o vocalista da banda – “O Optimus Alive! é uma merda” – uma frase que deixou alguns hipsters com uma lágrima no olho. Seguiram-se os Gnod nesta noite 0, este concerto da banda seria o primeiro dos três que a banda iria dar no festival. InGnodWeTrust, God is Dead but Gnod is fucking Alive! E foi isso que este concerto demonstrou. O palco Taina contou ainda com ANA e Pedro Santos, mas o que interessa é o primeiro dia a sério do Milhões.
terça-feira, 12 de junho de 2012
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Especial IndieLisboa 2012 - Stilleben
A tensão de um inumano fantamástico
materializa-se no corpo sedento de uma efectivação de um prazer carnal. Este
enfrenta a negação desse impulso que o obriga a uma deslocação desta pulsão. É
este o diagrama de pulsões e tensões que Sebastian Meise projecta na tela do
seu filme Stilleben.
Quero ver-te a tomar um duche.
Não te secas. Sentas-te no meu colo.
Eu quero acariciar o teu corpo e enquanto o faço
quero chamar-te Lydia
Estas são as palavras fantasmas que
se ouvem vindas do espaço ausente e se concretizam numa carta que é escrita à
mão. Esta carta será o dipositivo fílmico responsável por causar a fragmentação
dos corpos actuantes na família austríaca descrita pelo filme. A carta escrita
pelo pai implica um jogo entre a ficção e uma realidade outra. Outro objecto
importante na significação fílmica da obra, é a oficina do pai. Um espaço afastado
da realidade, um mundo que permite ao pai uma expressão das tensões inumanas
que o percorrem. Um espaço que representa um retorno a um local antes do tempo,
um espaço intra-uterino. No jogo entre a tensão e a efectivação das
pulsões do personagem principal, a oficina joga um jogo importante na
hierarquização da psicologia do pai. A oficina é o lugar onde estas tensões
podem ser expressadas enquanto realidades das suas necessidades, nunca chegando
contudo a fazer parte do grande mundo. O realizador joga aqui com aquilo que
existe neste lugar interior mas que não se efectiva na sua existência com o
outro. Será que o inumano é inumano se este inumano existir apenas no espaço
interno do homem?
Em termos formais o realizador cria
planos que se perlongam até ao incomodo, estes planos perlongam também as
tensões psicológicas que se formam nos seus actores. Como se observou no início
da diegese Meise usa formas sem ancoragem, aparentemente extradiegéticas mas
que no decorrer da narrativa aparecem ligadas a objectos que as tornam
diegéticas. Este é mais um dos jogos entre a efectivação e o idílico proposto
pelo filme.
Este equilíbrio entre aquilo que é
interno e externo é explicitado quando as fantasias do pai são deslocadas para
uma prostituta. Esta é a receptora da carta com as instruções. A prostituta é o
corpo físico que permite ao pai a realização do seu desejo de possuir a sua
filha enquanto objecto carnal. O desejo é demonstrado formalmente pela luz
vermelha que ocupa o espaço do desejo carnal, existe um jogo entre a luz
vermelha que ilumina a prostituta e a toalha vermelha que seca o corpo da filha
na cena seguinte. O conflito fílmico é despoletado pela descoberta feita pelo
filho do espaço interno do pai, é essa a descoberta que irá gerar a
fragmentação do seio familiar.
A segunda parte do filme lida com
as consequências da revelação feita pelo filho, cada um dos personagens lida à
sua maneira com essa revelação. O filho tem de lidar com a sua condição
enquanto partícula geradora do caos. A mãe por seu lado revela com a sua
atitude a verdade dos seus sentimentos. Os resultados desta descoberta são mais
importantes na relação entre o pai e a filha. A filha descobre o porquê da
impossibilidade de uma relação entre si e o seu pai. A impossibilidade que se
deve à desvirtuação do afecto por parte do seu elo paternal.
Os momentos principais do filme
fazem-se na desconstrução da figura paterna. Existe um movimento que se faz do
interior para o exterior por parte da figura paterna, como na cena em que o pai
surge do interior da floresta a caminho da cidade. A parte inumana do
personagem terá de enfrentar finalmente as construções humanas civilizacionais.
O lugar que anteriormente lhe havia oferecido protecção é violado pela presença
dos seus dois filhos, a violação máxima deste espaço acontece quanto os
fragmentos imagéticos das pulsões eróticas do seu pai são desembalados e postos
em contacto com oxigénio que os corrompe. Na conclusão do filme o realizador
joga a cartada final quando o pai é preso por ter entrado armado num banco.
Esta é a última tentativa do pai reencontrar o espaço hermético que havia
anteriormente controlado as suas tensões. Este é um grande filme em que Sebastien
Meise trabalha com mestria as profundezas do ser humano e aquilo que define o homem e a sua inumanidade,
o eterno jogo entre o claro e o escuro.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Isto já não é um filme.
A obra cinematográfica assinada por Jafar Panahi e Mojtaba Mirtahmasb, atingiu em 2011 o centro nevrálgico do mundo cinematográfico ocidental. A comoção gerada por Isto não é um filme, não se deveu ao conteúdo da obra mas sim ao contexto que a envolve. Uma pen que traz no seu interior, uma lembrança de um mundo outro, um mundo que prende os seus realizadores por aquilo que estes filmam. O filme de Panahi serviu tanto de chamada de capa de jornais, como de alavanca do discurso libertário demagógico. Perdido no meio deste turbilhão de discursos apócrifos, ficou o teor fílmico de Isto não é filme. Recuperando a obra fílmica, levanta-se a questão da validade da teorização de uma obra de um homem que arrisca uma sentença de prisão. Contudo a obra fílmica deve existir enquanto obra impendente do seu contexto, essa isenção torna-a passível de crítica.
O filme de Panahi constitui-se numa zona imprecisa entre a ficção e o documentário. A linguagem ambígua do filme coloca em evidência a forma do mesmo, reflectindo sobre a formas e esquemas do cinema, poderemos então defini-lo como um filme ensaio? Mas se como o título indica Isto não é um filme, então o que será?
A primeira cena é composta por um plano fixo que identifica Panahi como personagem central da obra. Se o filme se define como um documentário pela sua suposta falta de argumento e ausência de actores, afirma-se ao mesmo tempo como ficção ao accionar uma diegética. Panahi que está impedido de realizar pede portanto a alguém que ligue uma câmara, tentando perverter assim a ordem judicial. Este tipo de jogos de linguagem irá suceder-se ao longo do filme, servindo de questionamento sobre o que é o realizador. As primeiras cenas do filme põem em marcha a engrenagem do dispositivo fílmico. Este dispositivo pressupõe o iphone com o captador da imagem e também como elemento de ligação do mundo exterior e interior. Esse dispositivo não está limitado pelas escolhas do autor mas pelos condicionalismos exteriores. Coloca-se pela primeira vez a questão de autoria, pois se a condição aqui não se trata de uma condição artística proposta pelo autor como no caso do Dogma 95, mas sim um condicionamento autoritário exterior. Esse condicionamento reduz o autor ao quê?
O condicionalismo do plano fixo é ultrapassado através de Mojtaba Mirtahmasb. Mirtahmasb é documentarista que supostamente estaria fazer um documentário, sobre os realizadores iranianos impedidos de filmar. Se Mirtahmasb é o mecanismo que permite a mobilidade da câmara é também mais um elemento da dissipação da autoria de Panahi. O papel de realizador oscila entre estas duas figuras, isso é demonstrado pelo facto dos comandos de Panahi não se efectuarem no dipositivo, sendo uma figura exterior a responsável pela mudança dos planos. Esse é mais um dos jogos de linguagem que se jogam neste filme, a palavra corta é parte integrante do léxico do realizador, logo essa seria uma palavra proibida a Panahi.
Depois de enunciar as regras do jogo, Panahi dá início à encenação do argumento de um suposto filme proibido de Panahi. Panahi torna material o objecto imaterial do cinema, o argumento perde a sua função após a existência física do filme. Panahi utilizando a sua alcatifa como palco põe em funcionamento uma teatralização do seu argumento, sendo que Panahi é voz de todos os personagens. O argumento conta a história de uma rapariga que quando descobre que conseguiu entrar num curso de artes vê a inscrição proibida pelos seus pais, a rapariga vê-se então presa pelas quatro paredes da sua casa. Existe uma forte analogia entre a rapariga e Panahi que a interpreta. Contudo este mecanismo é travado pela incapacidade de realização do mesmo. “Se se pudesse contar um filme para quê filma-lo?”
Este impasse criativo é transformado numa aula de cinema,
Panahi caminha então para o filme-ensaio. É introduzido um novo ecrã que
reproduz trechos dos filmes anteriores de Panahi. Estes trechos permitem a
Panahi afirmar que direcção de um filme não se cinge ao seu realizador, a
realização é partilhada pelos personagens e pelo local. Deixa portanto de fazer
sentido a ideia da dissipação da realização, passando a existir uma
desmultiplicação da realização. Essa desmultiplicação é concretizada ao longo
do filme. Quando Panahi entra dentro do elevador com o rapaz que trata do lixo,
existe mais uma vez a partilha da realização um individuo exterior.
Outro aspecto na construção deste objecto fílmico é a contracção desse mesmo espaço. O espaço começa por ser um espaço imposto pelo regime autoritário exterior, contudo esse espaço cada vez mais delimitado por Panahi. Quando chega ao elevador o espaço físico está completamente dependente desta máquina que interrompe e bloqueia o avança do filme. Contudo no fim da viagem existe uma dilatação do espaço. O último plano permite observar a realidade ambígua exterior. No entanto a liberdade aparente que permite a percepção desse universo exterior é restringida pelas grades, que garantem o distanciamento entre a câmara e a acção ao ponto da existência de uma ambiguidade daquilo que é filmado.
Panahi constrói uma narrativa que expõe as possibilidades e a fraquezas do cinema pós-moderno, um discurso que tem em conta a democratização da arte em contraponto aos condicionamentos individuais.
Se como refere Godard o documentário é aquilo que tem a ver com os outros e a ficção é aquilo que tem a ver connosco, então este filme é uma obra de ficção. Neste objecto que já não é um filme Panahi constrói uma diegética assente na resposta criadora de um individuo condicionado pelas limitações impostas por uma sistema arbitrário.
domingo, 8 de abril de 2012
Parergon absens
Qual é a história?
Limite plural do organismo inexistente.
Linha sussurrada no deserto, de que é feito o giz que queima a carne.
A carne, vianda mole, que se contrai e deforma à passagem da máquina.
Qual é a história?
O tempo já não é espaço, o tempo é sensível, o tempo é memória, memória que o cogito não alcança.
Devir animal, animal, animal selvagem de jaula aberta.
A casa de Aristóteles, feita em ruinas pelo canhão do couraçado.
Qual é a história?
Escapou a Alexandre, Napoleão e Hitler. Mas na folha de Rimbaud se materializou.
O que terá a imanência sussurrado a Bacon. Que marcou na tela – farta - as singularidades de Deus.
“Esquizices” -Interferências, cadências vagas, fendas várias.
Qual é a história.
Mulher Cão, Paula Rego, 1984
segunda-feira, 26 de março de 2012
Small Hands
quinta-feira, 22 de março de 2012
John Maus, We Must Become the Pitiless Censors of Ourselves
Certo pensamento pós-modernista define a música com uma arte das profundezas e é nessas mesmas profundezas que John Maus se realiza. O álbum We Must Became the Pitiless Censors of Ourselves lançado no passado ano por John Maus é um álbum de catábase, uma descida ao abismo que implica uma renovação interna homem. É sobre esta égide temática e formal que o álbum de John Maus se desenvolve.
Recuando no tempo encontramos as colaborações de John Maus e Arial Pink, desde esse tempo é possível verificar uma convergência dos trabalhos lo-fi de Maus, para um new wave cada vez mais marcado. Na formação da obra de Maus é também importante recuperar o interesse do autor na obra de Michael Pisaro. É possível verificar nas fundações estéticas das obras do artista muitas das preocupações de Pisaro. Embora autor de Love is Real partilhe muitas das soluções e preocupações de Pisaro, o objecto de trabalho de Maus é a música pop. Compreende-se portanto a preocupação de Maus com os limites e as possibilidades deste género.
Partindo de um sistema minimal We Must Became the Pitiless Censors of Ourselves funciona como um estudo do outro, do espaço vazio entre humano e o primitivo. Maus mais do que um revisionista, aponta para o futuro sem medo do insensato e armado com um qualquer sintetizador cria os ambientes virgens do porvir. Assim como um feixe de luz corta o vazio negro também a voz de Maus surge no infinito rítmico da sua composição melódica pluricamada. Mais refinado que anteriormente o novo álbum repete o apocalipse e o absurdo presente nos anteriores trabalhos do músico. Nas várias músicas do álbum desfaz a coerência interna da sua melodia colocando ruido em sítios inusitados, caminhando em direcção ao abstracionismo formal. Nem o título do álbum é inocente remetendo para uma citação do filósofo francês Alain Badiou, que revela a atitude crítica do autor, este acredita que neste mundo em que informação é recebida a lote devemos ser os primeiros a censurar as trivialidades que nos rodeiam. John Maus consegue em We Must Became the Pitiless Censors of Ourselves realizar aquilo que se propôs tendo construído um edifício de pura mestria que existe em si mesmo seguro do seu lugar neste incoerente universo.
quinta-feira, 1 de março de 2012
Ilustração #11
O ilustrador chileno Alvaro Tapia é mormente reconhecido pelos seus retratos, marcados por um estilo grotesco, que joga com cores frias que contrastam com as cores claras usadas em certos pormenores da anatomia das figuras. Na colecção aqui apresentada o designer chileno, a trabalhar em Espanha, recria as principais figuras do horror série b, sempre com um twist. Para além desta colecção vale também a pena passar pelo site do ilustrador, onde podem encontrar conjunto de ilustrações onde o ilustrador desconstrói com mestria a anatomia humana. Para além do site do autor podem também ver o trabalho de Alvaro Tapia em várias revistas como a Wired e Rolling Stone.
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Corvo Records
Da nova editora Corvo Records já se conhecem algumas bandas,
a primeira destas com algo editado foi Marmalard. Projecto com assinatura de Sérgio
Dinis ex-membro dos Iconoclasts, viaja por paisagens sonoras electrónicas que
podemos atribuir à IDM. Os outros dois projectos já conhecidos da editora são
os Musket e os Wind Koala. Os Musket que se encontram no momento a preparar um
longa duração, são rapazes da escola da DFA Records. Com os dois pés nas pistas
de dança não esquecem o rock suado, distinção que partilham com os seus
ilustres “primos”. Gravado na Black Sheep Studios, o primeiro EP da banda conta
com a participação de Makoto Yagyu. O novo single “So Tired” gravado já no
Corvo Studios conta com Henrique Albuquerque e Rui Pereira. Não me posso
esquecer dos putos de Setúbal que têm já o primeiro EP – Prepositions – terminado
com produção de Sérgio D. Mendes, só falta agora desmama-los e pô-los em palco.
O showcase da editora está acontecer neste momento no MusicBox, quem não foi
pode ouvi-los a todos no bandcamp.
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Isto não é uma festa Indie II
Fevereiro marca o retorno de “Isto não é uma festa indie”. Depois da primeira edição que contou com Black Bombaim, Tren Go! Soundsystem, Lovers&Lollypops Soundsystem e Granada, a festa está volta e de novo no Lounge. Desta vez o convidado especial é o venezuelano Algodón Egipcio autor do álbum La Lucha Constante. Mais uma vez a festa terminará com os residentes Lovers&Lollypops Soundsystem. Dia dezassete de Fevereiro à pala no Lounge.
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
mynameisindie Tv #Especial - Edição Nacional
Branches - Canção para o Luís. Directed by Pedro Rios
Os Passos em Volta – Fetra. Directed by Rodrigo Alfacinha
:papercutz – Disintegration. Directed by Pedro Pinto
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
"Arrefeceu a cor dos teus cabelos"
Escolhido o novo talento fnac fotografia, agendou-se então a inauguração da exposição vencedora. A inauguração da exposição da série fotográfica “Arrefeceu a cor dos teus cabelos” de Lara Jacinto irá então acontecer dia 24 de Janeiro às 18:30 na fnac do Chiado. Lara Jacinto formada em design e fotografia tem vindo a realizar os seus trabalhos nestas duas áreas na cidade do Porto. Desde 2009 que se dedicou a sério à fotografia, partilhando assim o seu olhar único daquilo que a rodeia com o resto do mundo. Nas fotos de Lara Jacinto sentimos a marca do universo suburbano partilhada por muitos artistas portugueses do do pós-25 de Abril. Na série vencedora a linha que une as diferentes fotografias é o tempo e a sua marca nos corpos e espíritos de dois personagens. A fotografia que abre o trabalho é reveladora de um elemento comum no trabalho de Lara. As janelas que separam dois mundos, as janelas que permitem o olhar e nos devolvem esse olhar. Nas restantes fotografias passeamos pelos lugares íntimos destas duas personas, os lugares que nos revelam as fragilidades e as ausências. É nesta narrativa de perguntas que se fazem e respostas que não chegam que se movem os momentos e lugares destas duas almas. Feita esta curta introdução ao trabalho de Lara Jacinto, fica apenas a faltar o poema de Miguel Torga de onde Lara Jacinto foi buscar o título para este projecto.
Vénus envelhecida
Arrefeceu a côr dos teus cabelos
O tempo tudo apaga e desfigura...
Que palha triga, sensual, madura
O loiro resplendor que rememoro!
Chove ou sou eu que choro
Desiludido?
Como era quente o ouro da seara!
Ah, deusa sem tiara
Mito desvanecido!
Miguel Torga Miramar, 16 de Agosto de 1963
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Secret Show
Passando
pelo site do colectivo cultural Bacalhoeiro, encontramos a programação da Noite
Psicotropico na próxima sexta feira dia 13. O programa conta com três bandas
internacionais, contudo se as procurarmos no Google não encontraremos qualquer referência
às mesmas, isto deve-se ao facto de este ser o primeiro de vários Secret Shows
protagonizados pela banda Youthless. A realidade é que a noite de sexta-feira
13 no Bacalhoeiro irá primar pela colheita nacional. A descrição do site dá
pistas sobre as bandas que irão tocar na noite de dia a treze, a primeira banda
não vem do Uruguai mas são um duo criam uma mistura exótica de UK Garage com
elementos dispersos como Afrobeat, Dubstep, Ragga, entre outros. Os Octapush
vão de certeza deitar a casa abaixo com a uma perfomance explosiva a que já nos
habituaram. A segunda banda já é cliente habitual aqui no blog, os Youthless “duo
sónico de baixo, bateria e vozes”, revelou no seu novo site o segredo por
detrás desta noite, se quiserem saber mais e aproveitar para fazerem o download
da nova mixtape da banda vão até ao seu site. Por fim a última banda é formada
por duas irmãs que fazem parte da malta Cafetra. As Pega Monstro vão abanar as
paredes do Bacalheiro com o seu pop lo-fi e a sua energia que deslumbra. Já
sabem se quiserem exorcizar superstições e ouvirem boa música, vão até ao Bacalhoeiro
na próxima sexta por volta das onze.
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