quinta-feira, 22 de março de 2012

John Maus, We Must Become the Pitiless Censors of Ourselves


Certo pensamento pós-modernista define a música com uma arte das profundezas e é nessas mesmas profundezas que John Maus se realiza. O álbum We Must Became the Pitiless Censors of Ourselves lançado no passado ano por John Maus é um álbum de catábase, uma descida ao abismo que implica uma renovação interna homem. É sobre esta égide temática e formal que o álbum de John Maus se desenvolve. Recuando no tempo encontramos as colaborações de John Maus e Arial Pink, desde esse tempo é possível verificar uma convergência dos trabalhos lo-fi de Maus, para um new wave cada vez mais marcado. Na formação da obra de Maus é também importante recuperar o interesse do autor na obra de Michael Pisaro. É possível verificar nas fundações estéticas das obras do artista muitas das preocupações de Pisaro. Embora autor de Love is Real partilhe muitas das soluções e preocupações de Pisaro, o objecto de trabalho de Maus é a música pop. Compreende-se portanto a preocupação de Maus com os limites e as possibilidades deste género. Partindo de um sistema minimal We Must Became the Pitiless Censors of Ourselves funciona como um estudo do outro, do espaço vazio entre humano e o primitivo. Maus mais do que um revisionista, aponta para o futuro sem medo do insensato e armado com um qualquer sintetizador cria os ambientes virgens do porvir. Assim como um feixe de luz corta o vazio negro também a voz de Maus surge no infinito rítmico da sua composição melódica pluricamada. Mais refinado que anteriormente o novo álbum repete o apocalipse e o absurdo presente nos anteriores trabalhos do músico. Nas várias músicas do álbum desfaz a coerência interna da sua melodia colocando ruido em sítios inusitados, caminhando em direcção ao abstracionismo formal. Nem o título do álbum é inocente remetendo para uma citação do filósofo francês Alain Badiou, que revela a atitude crítica do autor, este acredita que neste mundo em que informação é recebida a lote devemos ser os primeiros a censurar as trivialidades que nos rodeiam. John Maus consegue em We Must Became the Pitiless Censors of Ourselves realizar aquilo que se propôs tendo construído um edifício de pura mestria que existe em si mesmo seguro do seu lugar neste incoerente universo.

 

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