Norberto Lobo é o músico a quem as palavras não fazem falta, as cordas da sua guitarra conseguem dizer mais de si e daquilo que nos quer contar do que frase alguma o poderia. Comparar a guitarra de Norberto Lobo à de Carlos Paredes será um erro que se deve quase de certeza à portugalidade dos dois e a mestria de ambos no mesmo ofício. Para além destas duas particulares em comum apenas o amor pela guitarra e os dedos certeiros nas cordas. Norbeto Lobo é um português que toca Portugal na guitarra clássica e não na guitarra portuguesa e essa diferença altera completamente a forma como Portugal é tocado por Norberto Lobo. Ouve-se em Norberto a certeza da música, em detrimento do virtuosismo técnico, não que o mesmo não o seja muito pelo contrário, mas para Norberto Lobo o erro é importante e faz parte da criação e o músico prefere muitas vezes que o mesmo esteja presente. A verdade é que para Norberto Lobo a música não se reduz à técnica, mas extravasa o instrumento, passando a utiliza-lo apenas como meio para atingir o fim, fim esse que é construção melódica de temas onde nos são pintados lugares com pessoas dentro.
A sua guitarra cria camadas sonoras que se vão multiplicando e polvilhando com apontamentos simples como os sons da americana ou a influencia cítara, esta ideia de ser português num país que muitas vezes não gosta de si. Eu conheci o Norberto Lobo ao contrário, conheci-o já “Pata Lenta” e só mais tarde o conheci como “Mudar de Bina”. Em “Mudar de Bina” vê-se o material, algum ainda cru que foi cozinhado para fazer “Pata Lenta”.
Norberto começa o álbum “Pata Lenta” com o tema homónimo deixando claro que o mesmo não poderia começar de outra forma. Do interior do disco fazem também parte temas como “Ayrton Senna” ou “Zumbido Azedo” que nos contam as histórias dos tais lugares que Norberto Lobo tão bem conhece. Norberto Lobo é tão preciso na pintura das suas casas portuguesinhas na sua música quanto Matisse quando pintava as suas naturezas mortas.
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