quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Arcade Fire - The Suburbs


“Funeral” é uma pedra no charco, uma redefinição conceptual da música mundial, o primeiro álbum da banda de Montreal forneceu a contextualização a todas as bandas que lançaram os seus álbuns no rescaldo do abalo que foi “Funeral”. Todos os álbuns que se seguiram foram pensados tendo este marco, o próprio “Neon Bible” sofreu com as comparações feitas ao seu antecedente. Logo este terceiro álbum de originais é uma tentativa de Win Butler se dissociar do seu pecado original, “The Suburbs” é uma espécie de anticorpo contra o turbilhão criado por “Funeral”. Neste álbum Win trouxe os seus companheiros de volta a casa, uma visita aos sons que responsáveis por educar os homens e mulheres que formam os Arcade Fire. Logo este álbum pode ter diferentes leituras dependendo se o tomamos como uma obra individual distanciando-nos dos anteriores trabalhos da banda ou se o tomamos como parte da trilogia iniciada por “Funeral”.
“The Suburbs” é uma viagem às memórias daqueles tempos mais simples, aquele local onde o indivíduo se forma. Esta viagem tem como paisagem obviamente os subúrbios, os terrenos mais afastados do cerne do nosso Ego, mais pertos das nossas lembranças. O local onde o capital informativo depois de processado fica depositado à imagem do sótão da casa dos pais aquele lugar mágico repleto de peças fundamentais para construção do individuo.
O álbum começa com a sua música homónima, “The Suburbs” foi a primeira música a ser divulgada pela banda ainda antes do lançamento do álbum. Percebe-se o porque desta música ter sido o primeiro vislumbre do álbum, “The Suburbs” funciona como uma espécie de prelúdio da obra, funciona como aquelas notas em letrinhas pequeninas que os autores colocam nos seus livros com o objectivo de facilitar a leitura àqueles leitores menos esforçados. E se “The Suburbs” é escrito com letrinhas pequeninas “Ready to Start” é prosa e com letra capital. A música parece ter sido escrita algures na adolescência dos anos oitenta, a música começa com uma linha de baixo intensa até que se ouve “Now I am Ready to Start” e a partir dai a bateria é substituída, e lá para o final somos levados para uma experiência etérea.
Os arranjos líricos neste álbum são semelhantes aos usados em “Neon Bible” existem claro excepções como por exemplo “Modern Man” onde os Arcade Fire se despem de maniqueísmos em termos harmónicos deixando apenas os riffs mais elementares fazendo assim com que a estrutura rítmica fique assente nos jogos da líricos de Win Butler. Outro exemplo da inovação lírica de Win Butler é a música que se segue a “Modern Man” no álbum, “Rococo” é a fúria divina de um Deus do antigo testamento que joga fogo sobre os seus crentes com vista a os purificar. Neste caso Win Buttler é o Deus que ataca a sua legião de fãs que acha serem desprovidos da inteligência necessária para discernir o que é o bom e mau sem a ajuda “da cena indie” instituída.
“Empty Room” é um regresso às orquestrações onde os Arcade Fire já foram muito felizes. Esta música é a uma das poucas excepções neste álbum pois se a excluirmos, “The Suburbs” é uma quebra com os seus dois últimos álbuns, o único local onde já tínhamos ouvido esta espécie de som por parte dos Arcade Fire foi em “No Cars Go” o que comprava o regresso às origens que antecederam “Funeral” pois “No Cars Go” foi criada para o seu primeiro ep sendo só mais tarde vestida e gravada para “Neon Bible”.
Outro ponto importante em “The Suburbs” é investida da banda por novas forma de criar som, isso pode ser observado na modesta tentativa de incluir sons electrónicos em “Half Light II (No Celebration)” onde os Arcade Fire brilham ou em “Sprawl” onde a banda se aventura pelos terrenos da electro pop desta vez completamente às claras. Em “Sprawl” a voz cristalina de Régine Chassagne reassegura o espírito dos fãs, pois mesmo envolvida pelas camadas sonoras inéditas a canção transporta-nos para um imaginário mais próximo do que a banda já fez anteriormente.
O álbum termina tal como começou assegurando a sensação de unidade do álbum.
É preciso ainda referir “Month May” que parece um alien perdido no meio do álbum, uma tentativa Punk falhada que chega ferir a unidade do álbum, esta música ficaria bem algures num ep nunca conjunto com as restantes músicas deste álbum.
“The Suburbs” é aglomerado de sensações que nos navega por uma época antes dos Arcade Fire até uma inocência juvenil e a partir desse ponto criar algo que reflicta a pureza dessa época.
Podemos então dizer que “The Suburbs” é um álbum ainda mais ambicioso que os anteriores trabalhos da banda. Contudo o que impede o álbum de ser o novo “Funeral” é talvez esse excesso de ambição.
Com “Funeral” os Arcade Fire fizeram o mundo tremer, com “Neon Bible” deixaram o mundo a arder. Em “The Suburbs” a banda voltou-se para si mesma, pegou nos destroços causados pelos últimos álbuns e criou algo novo que só o futuro dirá se se trata apenas de um alien ou uma porta para o futuro.

1 comentário:

Wellvis disse...

wow1 belissimo texto. Neon Bible, indeed, deixou o mundo a arder, mas agora com "the suburbs" desceram dos céus para apagarem os fogos :)

belo blogue, ja adicionei aos favoritos.

abraço