sexta-feira, 26 de abril de 2013

IndieLisboa 2013: Museum Hours



Glük auf - “es mögen sich Erzgänge auftun”

Museum Hours de Jem Cohen é uma digressão fílmica pela cidade de Viena. Johann, um guarda do Kunsthestorisches Art Museum, repete todos os dias os mesmos gestos, os mesmos jogos, como forma de aliviar o peso do tempo. Anne é uma canadiana de meia-idade que chega a Viena devido ao coma da sua prima. O encontro destes dois personagens será o impulso narrativo de Museum Hours.
Inicialmente os espaços da cidade de Viena restringem-se ao espaço do hospital e ao museu, ambos os espaços enunciam uma imobilidade que contamina a cidade. As naturezas mortas expressas no museu assemelham-se aos objectos estáticos espalhados pelo quarto do hospital. O corpo imobilizado pelo coma confirma o estatuto da cidade Viena como uma cidade estática. A expressão fílmica dessa imobilidade é descrita pela imagem de Johann engolido pela constância da porta de madeira do museu.
Esse estatuto da cidade é alterado pela chegada de Anne, o seu olhar estrangeiro activa em Johann uma nova experiência da cidade. Esta efectua-se na recuperação de uma cidade que se havia perdido devido a processo de naturalização, provocado por uma repetição existencial de Viena. Esta nova experiencia da cidade, enuncia um alargamento do espaço de Viena que se efectiva na fragmentação dos limites do espaço do museu. Os fragmentos da cidade Viena, emoldurados pelo olhar fílmico, transformam-se em registos pictóricos expostos no museu. O questionamento enunciado por Anne desconstrói as estruturas simbólicas da cidade. Esse questionamento leva a personagem a por em causa o seu estatuto na cidade – “I Am a Turist?”. Johann define-se assim como o guia de uma cidade que existe para além do circuito turístico. A invisibilidade de Johann permite-lhe assumir o estatuto de flâneur, aquele que escreve o espaço simbólico da cidade para Anne.
A escrita da cidade enunciada por Johann é confirmada pela expressão pictórica de Bruegel. A palestra na sala de Bruegel enuncia paralelamente à reescrita de Viena uma desconstrução simbólica dos quadros do artista da Flandres. O estatuto simbólico dos quadros de Bruegel é negado em virtude de nova leitura dos mesmos. É posta em evidência a natureza realista dos quadros. A crueza da experiência da cidade é nos quadros de Bruegel a confirmação da falácia histórica a eles associada. Bruegel é o reflexo de Johann que enuncia o seu nome em frente a um espelho.     
Johann é também o possibilitador da comunicação, é ele que permite o entendimento entre o pessoal do hospital e Anne. O corpo imóvel da prima de Anne enuncia o passado cristalizado da personagem. As primeiras visões desse corpo comatoso enunciam uma negação desse corpo pelo olhar fílmico. Johann é o tradutor desse corpo – desse passado encoberto. Antes da descida ao submundo é-nos descrita a face desse corpo cristalizado.
O adentramento efectuado nesse descida enuncia a transformação final do espaço cénico urbano. Essa regeneração é baptizada pela morte, a morte do corpo liberta-o da sua imobilidade. O regresso do casal emergido das profundezas, enuncia a nova vida da cidade. Viena passa existir na sua grandeza estética como espaço de criação artística. 
       
  
"About suffering they were never wrong,

The Old Masters: how well they understood

Its human position; how it takes place

While someone else is eating or opening a window or just walking dully along";

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