Do You Believe in Rapture?
Um rosto feminino nega-se, a floresta adensa-se, as vozes
multiplicam-se e os corpos adolescentes também. Assim surge Leones, a primeira
longa-metragem da realizadora Jazmin López. Filmado magistralmente em película
é um dos filmes em competição no Festival IndieLisboa 2013. O filme narra a
experiencia de uma jovem, a quem os outros chamam Isabel. Isabel surge como um
corpo indefinido no espaço que habita, um espaço que se enuncia no seu anonimato.
A floresta que define esse espaço é um espaço espiritual, um espaço que evidência
a ausência de uma referência, sem essa referência não há definição, há apenas
dúvida e abstracção. A experiência narrada por Jazmin López poderia ser
descrita como uma catábase pós-moderna, aqui a descida é guiada pela câmara que
define o caminho de Isabel. Isabel é acompanhada nessa viagem por quatro jovens
pubescentes que derivam, descrevendo um destino que nunca é aparente ao
espectador. A natureza mutante dos personagens, é imprevisível, não existe em
momento algum uma forma que contenha a existência espiritual dos personagens. Os
diálogos no filme são na sua maioria activados
por um jogo narrativo, por uma tentativa de definir uma história usando seis
palavras, um método usado por Hemingway.
A narrativa evolui à medida que os jovens adentram a floresta. Estes
jovens jogam sem bola – um piscar de olho a Antonioni -, esvaziam um carregador
de uma arma no rio, habitam uma existência para além da morte.
A escara aberta no pescoço de Isabel torna-se realidade, uma realidade
que é mais dolorosa quando a consciência da sua existência é alcançada. A morte
aparece como marca daquilo que é inescapável. O rosto é algo que pertence
somente aos vivos. Leones é segundo a realizadora uma referência a Borges e à
sua ideia que os animais são imortais pois não têm consciência da sua morte.
Esta figuras são também elas imortais na sua inocência.
Em Leones o caminhar é
narrativa, é definição e indefinição, é espaço de negociações, é propósito e
propositado, é através da deambulação que os personagens procuram uma casa, um
projecto que se encontra selado. O filme tenta escapar a estatutos e definições
pondo em evidência a natureza transitiva do projecto existencial, colocando
assim em evidência o fim da sua existência. Assim como a estes jovens resta-nos
deambular, questionar aquilo que vemos, o que experienciamos, tentado assim dar
um significado à experiência definida por Jazmin López. Leones é segundo
algumas críticas um filme sem narrativa, no entanto essa verdade é falaciosa,
Leones é um filme com uma narrativa, uma narrativa outra, uma narrativa em
constante questionamento. Assim como os jovens na floresta, Leones adentra os
subterrâneos à procura do rio que leva ao mar.