A figura feminina é o motivo que se repete nas telas de Jenny Morgan. Os quadros, da artista norte-americana, descrevem o espaço que existe para além do labirinto representativo do realismo estético. A frieza estilística do hiper-realismo é sobrepujada através de actos plásticos disruptivos do estatuto normativo da figura realista representada. No entanto, em Jenny Morgan está sempre patente uma contenção desses actos disruptivos, não existe nunca uma expressão não controlada desses mesmos actos. A obra de Jenny Morgan existe, desse modo, em contraponto à obra plástica de Jenny Saville, onde essa expressão desgovernada se verifica.
O corpo representado, nas telas da artista,
coloca em evidência uma experiência existencialista do individuo feminino. Os
óleos da artista enunciam-se enquanto expressões fenomenológicas do corpo feminino.
Os corpos representados por Morgan são representações de um espaço de negociações
individuais, onde estes se enunciam enquanto produto das tenções identitárias,
semióticas e materiais. Os corpos, de Morgan, são o esquisso na tela da
vivência negociada do género feminino. Os actos pictóricos disruptivos são
marca, na tela, da realidade transitiva das identidades expressas nos quadros.
Essas identidades expressam-se na sua qualidade ficcional, expressada pelo
mascaramento das faces dos objectos pictóricos. A existência inacabada, de
alguns dos quadros de Jenny Morgan, coloca em evidência a existência dos mesmos
no seu carácter de projecto identitário.